Dia de Castro Alves, dia da Poesia

15 de março de 2017 às 08:43
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No dia 14 de março, comemora-se no Brasil o dia da poesia por ser o dia do nascimento de Castro Alves. Lembrando o poeta Nazim Hikmet,

“Se eu não ardo,

Se tu não ardes,

Se nós não ardemos,

Quem romperá as trevas?”

Castro Alves ardeu e sua luz rompeu as trevas de seu tempo, mergulhado na vergonha da escravidão. Castro Alves foi um poeta múltiplo. Foi lírico, foi amoroso, mas, sobretudo, foi social. Nesse contexto do social, atingiu as alturas do condor e sua poesia foi chamada de condoreira. Natural de Muritiba, na Bahia, onde nasceu em 14 de março de 1847, a poesia de Castro Alves eleva o romantismo a um nível bem mais alto do que se poderia esperar, tudo por causa de sua poesia social. Revoltado com a situação dos escravos no Brasil, Castro Alves, junto com Tobias Barreto e outros revolucionários abolicionistas, colocou a sua poesia como vetor de luta a favor da libertação, a ponto de ser chamado de “o poeta dos escravos”. A grandiosidade da poesia de Castro Alves o levou a ocupar um lugar maiúsculo na poesia brasileira, mesmo tendo vivido apenas por 24 anos. Haveria glória maior para tão jovem poeta ter a data do seu nascimento considerada o dia da poesia? O vereador e professor Valci Vieira esteve preparando uma homenagem ao poeta, toda ela pensada em cima da poesia social de Castro Alves. Castro Alves ardeu na chama maior de sua poesia, brilhou em luz própria e nos deixou versos que ficarão eternamente na memória do tempo. Por exemplo, esse trecho de Navio Negreiro, poema que o poeta compôs aos 22 anos:

“Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais … inda mais… não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí… Que quadro d’amarguras!
É canto funeral! … Que tétricas figuras! …
Que cena infame e vil… Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

 

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder…
Hoje… cúm’lo de maldade,
Nem são livres p’ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute… Irrisão!…

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro… ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!…
Ó mar, por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!…

VI

Existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa… chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!…
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança…
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! … Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!”

Salve Castro Alves, poeta maior. Salve, Poesia.

 

Por Ramiro Guedes


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